sábado, 9 de julho de 2016

Pedagogia Libertadora X Analfabetismo Funcional

- Apesar de ser um assunto complexo, não existe uma única receita pedagógica para enfrentá-lo tendo em vista os problemas do nosso sistema educacional, as situações-problemas dos estudantes e a diversidade de contextos sócio-econômicos e culturais destes. São questões que devem se levar em consideração para enfrentarmos o analfabetismo funcional;

- Dentre as opções e as ações didático-pedagógicas que podem ser articuladas no processo de ensino e aprendizagem para diminuirmos o número significativo de analfabetos funcionais, que leem e escrevem mas conseguem a sua devida interpretação, ouso dizer que o educador pode optar politicamente pela prática educativa da tendência pedagógica progressista libertadora como auxiliar nesse processo de ensino a partir de uma educação crítica que vise a transformação social;

- Para início de conversa, vamos a origem etimológica da palavra aluno, que provém do Latin - Alumnus, uma espécie de criança de peito, lactante intelectual, e Alumni, que provém de alere, e significa alimentar, nutrir, fazer crescer, conduzir; em outras palavras, um indivíduo "sem luz"; aqui o professor é sem sombras de dúvida o detentor da luz, do conhecimento e do saber;

- Podemos citar dois tipos de professores: o professor isósceles e o professor e equilátero, este último é o que mais se aproxima do educando em uma relação menos autoritária por causa dos ângulos do triângulo que estabelecem metaforicamente esta proximidade relacional;

- O principal mentor da tendência pedagógica progressista libertadora é o educador brasileiro Paulo Freire, ao qual irei detalhar resumidamente tal prática didático-pedagógica;

- Papel da Escola - questionar concretamente a realidade das relações do homem com a natureza e com os outros homens, visando a transformação social a partir de uma educação que seja por excelência crítica;
- Resistir a educação tradicional, denominada de "bancária" que visa depositar informações sobre o educando; assim como a educação renovada que pretende uma libertação psicológica individual, as  ditas "domesticadoras" porque em nada contribuem para desvelar a realidade social de opressão.

- Conteúdos de Ensino - A busca pelos denominados "Temas Geradores" que são extraídos da problematização da prática de vida dos educandos;
- Aqui a transmissão de conteúdos específicos não são importantes, mas o despertar para as experiências vividas;
- A transmissão de conteúdos estruturados de fora são considerados como "invasão cultural" ou "depósito de informação" porque não emergem do saber popular e da realidade dos contextos vivenciados pelos próprios educandos;
- Com orientação do educador serão redigidos os textos de leitura pelos próprios educandos, se necessário for.

- Métodos de Ensino - O processo de alfabetização de adultos, especialmente, demanda de uma "relação de autêntico diálogo" entre educadores e educandos; O diálogo engaja ativamente os sujeitos no ato de conhecer: educador-educando e educando-educador;
- A forma de trabalho é o "grupo de discussão", aonde ocorre a auto-gestão da aprendizagem, a definição dos conteúdos e as dinâmicas das atividades;
- A princípio, o educador é um animador e deve "descer" ao nível dos educandos, adaptando-se as suas características e ao desenvolvimento destes, caminhando "junto" e se necessários for, fornecer os conteúdos e as informações mais sistematizadas.

- Os Passos da Aprendizagem - Sempre através das trocas de experiências da prática social, num processo de codificação, decodificação e problematização da situação ou contexto "vivido" até chegar ao nível mais crítico de conhecimento de sua realidade;
- Dispensa-se um programa previamente estruturado, trabalhos escritos, aulas expositivas, assim como qualquer verificação de aprendizagem direta de aprendizagem, que são formas próprias da "educação bancária";
- Entretanto, é admitida a avaliação da prática vivenciada entre educador e educandos no processo de ensino e aprendizagem em termos de compromisso assumidos com a prática social.

 - Relacionamento professor - aluno - A relação é horizontal e dialógica como método básico no processo de ensino e aprendizagem entre educador-educando; o critério de bom relacionamento é algo identificável pelo povo;
- Elimina-se toda a relação de autoridade, porque esta inviabiliza o trabalho de conscientização, de "aproximação de consciências" com perda de vista para a análise, reflexão, discussão e compreensão da realidade das relações do homem com a natureza e com os outros homens;
- Porém, o educador permanece vigilante para assegurar ao grupo um espaço humano para "dizer sua palavra", para expressar sua voz sem se neutralizar.

- Pressupostos de Aprendizagem - A força motivadora da aprendizagem, diga-se de passagem, é a "educação problematizadora", onde se codifica uma situação-problema, da qual devemos tomar distância para analisá-la criticamente, tal análise envolve o exercício da abstração necessária para alcançar as representações da realidade concreta, a razão de ser dos fatos, que a partir da situação real vivida resultará na capacidade crítica e argumentativa dessa realidade, levando o sujeito a conhecer tal "objeto";
- O aprendizado não ocorre por imposição, memorização ou ainda por decoreba, mas do nível crítico de conhecimento ao qual ocorre no processo de ensino e aprendizagem pelo sujeito no exercício de compreensão, reflexão, análise e crítica da situação-problema em questão estudada.

- Manifestações na Prática Escolar - A maior parte das experiências educacionais envolvendo a tendência pedagógica progressista libertadora se dão na "educação popular", em contextos de ensino não-formal, extra - escolar;
- Porém, a educação libertadora vem ganhando a atenção de muitos professores que vem tentando colocá-las em prática em todos os graus de ensino formal.

Fonte: LIBÂNEO. J.C. Democratização da Escola Pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 19**.

Neste sentido, venho por meio deste texto ilustrar a educação libertadora através da teoria de Paulo Freire para chamar a atenção para a necessidade de considerar o contexto sócio-político-econômico-cultural e tecnológico de seus educandos, com suas necessidades, suas aspirações, seus desejos e angústias, assim como seus próprios tempos individuais de aprendizagem em busca de uma educação mais inclusiva e compreensiva da realidade concreta dos indivíduos na sociedade.

Assim, o analfabetismo funcional poderá ser enfrentado no sentido de oferecer sentido e significado àquele que está em processo de aprendizagem numa relação pedagógica em que o educador se utilize da humanização, da humildade, da amorosidade em seu fazer pedagógico.

Afinal professor, tudo dependerá de sua opção política educacional.

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