Em 1564, a Coroa portuguesa adotou o plano da redízima, pelo qual dez por cento de todos os impostos arrecadados da colônia brasileira passaram a ser destinados à manutenção dos colégios jesuíticos.
A
Companhia de Jesus deu início a elaboração de um plano geral de estudos a ser
implantado em todos os colégios da Ordem em todo o mundo. O padre Claúdio
Aquaviva, superior geral da Ordem dos Jesuítas, eleito em 1581, deu início em
1584 aos trabalhos de elaboração do Ratio
Studiorum, chegando a versão definitiva em 1599.
A
orientação seguida foi a do modus
parisiensis, método adotado na capital da França e marca da Universidade de
Paris, introduziu a divisão dos alunos em classes, sua organização se dava
pelos alunos de mesma idade, ministravam um programa previamente fixado
proporcional ao nível dos alunos, sendo cada classe dirigida por um professor. Os
mecanismos de estudos implicavam castigos corporais e prêmios, louvores e
condecorações, denúncia ou delação.
Pode-se
considerar o modus parisiensis como o
germe da organização do ensino à constituição da escola moderna, que supõe
edifícios específicos, classes homogêneas, progressão dos níveis de
escolarização em séries e programas sequenciais, ministrados por determinado
professor.
O
código representado pelo Ratio Studiorum continha
467 regras. Era de caráter universalista porque era adotado por todos os
colégios jesuíticos em todos os lugares onde estivessem e elitista porque se
destinou aos filhos dos colonos, excluindo os indígenas, os colégios jesuíticos
se converteram no instrumento de formação da elite colonial.
Em
1750 haviam 728 casas de ensino – nove anos antes da expulsão dos jesuítas do
Brasil e dos demais domínios portugueses.
Com
os trabalhos de padres dedicados ao ensino nos colégios jesuítas, houve maior
divisão do trabalho didático, daí resultando: a criação de espaços
especializados para o ensino; desenvolvimento da seriação dos estudos;
diferenciação entre as áreas do conhecimento e crescente número de professores
especializados por área de saber.
As
ideias pedagógicas expressas no Ratio
Studiorum correspondem ao que ficou conhecido na modernidade como pedagogia
tradicional. Caracteriza-se por uma visão essencialista de homem, constituído
como universal e imutável e cumpre a educação moldar sua existência particular
e real à essência universal e ideal que o define humano. Ligada a vertente
religiosa, a corrente do tomismo de – Tomás de Aquino, filósofo e teólogo
medieval concebe o homem como imagem e semelhança de Deus e deve atingir a
perfeição humana na vida natural e fazer por merecer a dádiva da vida
sobrenatural.
A
orientação da corrente do tomismo está na base do Ratio Studiorum – regra nº 2 do professor de filosofia era em
questões de suma importância não se afaste de Aristóteles e a regra nº 6
recomendava falar sempre com respeito de Santo Tomás.
Predominou
aproximadamente por dois séculos, até 1759, quando se deu a expulsão dos
jesuítas de Portugal e de suas colônias por ato de Marquês de Pombal, então
primeiro-ministro do rei Dom José I.
SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. 4ª ed. – Campinas, SP:
Autores Associados, 2013. – (Coleção memória da educação)